O Prosa do vestibular apresenta a análise do terceiro romance do alagoano Graciliano Ramos intitulado Angústia, leitura obrigatória para os vestibulandos da Fuvest. A obra conta a história de um funcionário público ressentido, Luis da Silva e seu embate com Julião Tavares pelo amor de Marina, articulando subjetivismo e consciência social em plena era Vargas. O livro foi lançado em 1936 quando o escritor ainda estava preso na ditadura do Estado Novo – o que anos depois se transformaria nas suas Memórias do Cárcere, publicada postumamente. Assim, a insatisfação crônica do personagem de Angústia deságua na amargura num momento em que o Brasil via suas forças progressistas derrotadas mais uma vez diante do conservadorismo. Seu estilo enxuto e objetivo – já conhecido dos leitores pelos títulos Caetés e São Bernardo – cede lugar a uma história carregada de rancor entre as fissuras de um processo acelerado de modernização e um Brasil arcaico que ainda persiste na História, atravancando sentimentos do velho e do novo, naquilo que nas palavras do professor e crítico Antonio Candido foi chamado de consciência catastrófica do atraso. Ainda que a leitura em chave expressionista nos permite mergulhar nos delírios do protagonista, vale sempre lembrar que a característica marcante da chamada Geração de 30 era justamente a politização da estética e não seu contrário.
Adriano Almeida, que é doutor em Letras pela USP, professor e pesquisador de literatura. Autor de Entulhos (editora Patuá), escreve para sites e revistas e mantém há mais de dez anos o blog Não Basta. Atua como coordenador pedagógico no ensino particular.