Na mitologia grega, Caronte é o barqueiro de Hades que adentra o rio para confrontar uma nova existência. Ele é o início e o fim de um ciclo, o limiar do inesperado, que também é a síntese da obra proposta por Adinolfi: num gesto que articula diferentes agentes, o artista suspende uma embarcação por meio de um guindaste em meio a uma temporada de cahuvas incessantes. A carcaça desse barco verte a força das águas devolvidas ao rio, num fluxo constante de jorro e vida. Ao emergir das águas e conectar-se a elas pelos seus fluxos, o barco congrega força e leveza, imponência e delicadeza, e recebe um dado de humanidade.
Maurício Adinolfi
Maurício Adinolfi é rtista visual, possui graduação em Filosofia pela Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp. Doutor em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp, com intercâmbio e residência artística na Escola Superior de Educação, pelo Instituto Politécnico do Porto, em Portugal. Sua pesquisa e prática artística desenvolveu-se a partir da experiência com a construção naval e as comunidades litorâneas em diferentes contextos. Abordando situações críticas decorrentes das transformações sociais e da exploração dessas comunidades, Adinolfi fez da pintura e do uso da madeira como suporte, o mote para a aproximação com outros profissionais, a viabilização de trabalhos colaborativos e de intervenções urbanas das mais distintas escalas em diversas regiões do Brasil e do exterior.