Em ‘Decapitada’, último vídeo da série ‘Cabeças’, assistimos o ato violento do membro do Renato Pera. Desenvolvido para o programa #naVaranda, o episódio é acompanhado por texto elaborado também pelo artista. Confira e reveja toda a série!
Ambiente interno, garota high school realiza alguma atividade enquanto do lado de fora um potencial assassino (supostamente um homem) ronda o local, trilha de suspense com acorde contínuo que suspende a ação e intensifica a cena, deve ser interrompido abruptamente, a qualquer instante, pequeno ruído na área externa, mulher abre a porta, um gato pula para dentro, o grito da mulher encerra o suspense da cena e interrompe bruscamente o acorde contínuo, ambiente interno, velha assiste televisão e o seu cachorro começa a ficar inquieto ao ouvir um estranho ruído de batidas sem saber exatamente de onde vem, ruído persiste e logo algo começa a abrir a golpes – explica-se o ruído – o piso laminado de madeira por baixo, a partir da fundação, surge uma caveira portando um machado, plano fecha no machado no contraluz do televisor, rosto da velha, machado levantado para o alto, rosto da velha, machado descendo rápido, rosto da velha, sangue espirrado no televisor, cabeça decapitada carregada pelo seu próprio corpo decapitado numa bolsa de couro preto fechada, quase sufocando diz, aliviada, quando a bolsa é aberta, após uma longa inspiração de ar fresco: “ah, that’s better!”, foi morto instantaneamente na estação de rua do mercado da ferrovia nesta manhã. Seu corpo foi tão terrivelmente mutilado que os restos mortais tiveram que ser recolhidos com uma pá e levados embora em uma cesta. Ele foi reduzido a uma massa irreconhecível debaixo das rodas de uma locomotiva de carga pesada que o golpeou por trás e o arrastou diversos metros. Praticamente, cada osso de seu corpo foi quebrado, a carne feita em pedaços distribuídos ao longo do trilho.
Renato Pera. Série Cabeças (Decapitada), 2021. Fotogrametria e animação: Caio Fazolin. Textos: Renato Pera.
Sobre Renato Pera
Renato Pera (São Paulo, 1984) é artista e professor universitário. Doutor, Mestre e Bacharel em Artes Visuais pela USP. Foi premiado pelo 42o Salão de Arte de Ribeirão Preto (2017), 24o Visualidade Nascente (2016) e indicado ao Prêmio PIPA (2017 e 2014). Participa de exposições individuais e coletivas, nacionais e internacionais. Seu trabalho integra coleções públicas e privadas. É representado pela Galeria Bailune Biancheri (São Paulo).