Com uma seleção de obras em pequenos formatos desde a década de 1990 e de obras inéditas e recentes de Sérgio Sister, a exposição Entre tanto coloca lado a lado os trabalhos de Sister com André Ricardo e Bruno Dunley – artistas que surgem em meados da década de 2000 –, criando um diálogo intenso entre gerações e produção.
Aparentemente díspares, a exposição Entre tanto aponta, nessa diferença, um encontro de leituras da pintura que se produz em nossos dias com referências na história recente da arte.
“A ideia de reunir o trabalho de Sister com o de dois jovens pintores, Dunley e Ricardo, para além das particularidades da obra de cada um deles, é instaurar o debate sobre a passagem das questões modernas para a contemporaneidade e como a pintura ainda atualiza as questões da arte em nossos dias”, argumenta Claudio Cretti, artista visual e diretor artístico da Casa de Cultura do Parque.
No texto de abertura da exposição Entre tanto, o professor e filósofo José Bento Ferreira analisa: “Para os três artistas, a pintura é uma recusa à condição de coisa. Os quadros são objetos materiais feitos de relações, portadores de certa imaterialidade. A pintura, como toda imagem, não é coisa, é olhar. Ela instaura olhares, produz relações.”
Pintura de ligação
A partir dos anos 70, Sérgio Sister mostra com regularidade sua produção pictórica. Com grande presença no Brasil e no exterior, influenciou gerações de artistas brasileiros.
Em seguida, já no início da década de 1980, Sister realiza telas abstratas, nas quais alia faixas de cor de tonalidades aproximadas, empregando pinceladas curtas e tintas metálicas, conectando dois ou mais corpos diferentes de cor. Posteriormente, no final da década de 1990, combina pintura e escultura, quando surge as séries Ripas e Caixas, e, mais recentemente, a série Pinturas Entre.
Analogamente, para Ferreira, duas telas monocromáticas transformam-se ao ser justapostas, como peças de roupa combinadas no corpo: “Não existe cor em estado puro. Uma superfície pintada liga-as por trás para que o díptico se torne um objeto único na ‘pintura de ligação’ de Sérgio Sister. Uma terceira cor exala pela fresta entre as telas.”
Figurativo e abstrato
No entanto, formar-se tendo Sérgio Sister e outros pintores abstratos como referência não impediu que Bruno Dunley e André Ricardo pintassem a partir de figuras. Em outras palavras, o flerte com o figurativo não os distrai da pesquisa por relações cromáticas e formais.
Assim, André Ricardo apresenta lado a lado imagens e campos de cor. Enquanto o artista observa formas arquitetônicas, animais, veículos e todo desenho do cotidiano, Ferreira nota que são formas feitas para iludir, agradar e seduzir. “Assumem um aspecto rígido, hierático. Seus contornos e cores tornam-se resplandescentes de modo inteiramente outro que o da visão comum das coisas. O ídolo ressurge como ícone.”
Nas obras de Bruno Dunley, por outro lado, não há uma transição abrupta entre figurativo e abstrato. “Ele envolve algumas imagens com espessas nesgas de tinta. Vultos mergulham no espaço. As aparições que povoam suas telas apontam para uma dimensão mítica e arquetípica”, comenta Ferreira, sobre o trabalho de Dunley.